terça-feira, 3 de março de 2009

Preparadas para servir

Hoje, gostaria de compartilhar com vocês alguns trechos do brilhante artigo “Preparadas para servir”, escrito por Stephen Kanitz e publicado na revista Veja, edição 1850, de 21/04/2002. Já faz quase 7 anos, mas o tema continua atualíssimo. Aproveitem!
Quem quiser viver da indústria e do comércio terá de se conscientizar de que as coisas mudaram. Ninguém mais opera exclusivamente nos setores do comércio e da indústria. Na realidade, esses dois setores dependem dos serviços que prestam, não dos produtos que entregam. O mundo empresarial de hoje é o mundo dos serviços.
A grande maioria das empresas ainda não percebeu esse fato ou ainda não está preparada para essa nova era. Poucas estão organizadas e treinadas para servir o outro, nesse caso o cliente. As companhias de sucesso serão as empresas que eu chamaria de “preparadas para servir”.
Transformar empresas para servir é um grande desafio e, por razões históricas, administradores profissionais terão de promover uma mudança cultural de enormes proporções. Herdamos da cultura portuguesa a visão de que servir tem a ver com servidão, um fardo, uma obrigação a ser evitada. Servir o outro era visto nessa cultura como uma penalidade, algo a ser evitado a todo custo.
Essa mentalidade tem muito a ver com os quase 400 anos de tradição escravocrata, em que se importavam escravos justamente porque servir era impensável. Tanto assim que o Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravidão.
Por essas razões históricas, o Brasil ainda vive a resistência a servir os outros. Servir os outros está associado a servilismo, a serviçal, a subserviência, termos absolutamente negativos. Muito distante do ideal cristão de servir como finalidade maior da existência humana.
Em culturas em que não houve a escravidão, servir o outro é um prazer, é algo feito de bom grado, incentivado e remunerado. Um comportamento altruístico que gera o círculo vicioso da reciprocidade.
Como mudar esse pensamento dominante e hegemônico no Brasil? A maioria dos brasileiros, inclusive muitos intelectuais, quer ser servida, e não servir. Quer todos os seus direitos, sem pensar nas obrigações.
Que ações uma empresa ou repartição pública poderá efetivar para se transformar numa organização preparada para servir os outros? Uma das saídas que recomendo é contratar funcionários que tenham sido voluntários em entidades beneficentes. Isso porque não há seminário, palestra motivacional ou treinamento que induza alguém a mudar de postura. É uma característica pessoal e cultural. [...]
Se ensinarmos as pessoas que servir o outro não é degradante, mas, pelo contrário, um raro prazer, construiremos uma sociedade sólida e uma plataforma de exportação de serviços. Criaremos uma nação de cidadãos compromissados com o cliente e com o social. Vamos começar hoje a aprender a servir o outro em vez de somente nos servir.

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